O dono de um império das comunicações, um chefão mafioso, um cowboy em busca da sobrinha, um diretor de cinema em crise, um computador mais humano do que os humanos, samurais sem mestres, dois pistoleiros cheios de cultura pop, o dono de um piano-bar no Marrocos, uma princesa rebelde no espaço sideral e um detetive com medo de altura. Talvez você não consiga imaginar o que eles têm em comum, mas o cinema conseguiu. Eles são personagens centrais de algumas das obras-primas que a indústria cinematográfica produziu ao longo de sua existência.
Desde o final do século 19, a sétima arte criou milhares de filmes. Entre eles, algumas centenas de películas que têm encantado milhões de pessoas em diferentes gerações ao redor do planeta. Dentro desse rico acervo, não é nada fácil elencar quais seriam os melhores filmes de todos os tempos. Mas, como era de se esperar, o HowStuffWorks aceitou o desafio. A partir de uma série de listas que têm sido elaboradas nas últimas décadas, procuramos descobrir as escolhas mais freqüentes de críticos e do público.
Claro que a seleção não foi feita para ser aceita com unanimidade. Afinal, há um crítico de cinema dentro de cada um de nós (assim como há um técnico de futebol) e a escolha dos melhores filmes (assim como a escalação da seleção brasileira) sempre deixa espaço para polêmicas. Mas, no mínimo, os filmes selecionados compõem uma amostra bem representativa das obras de arte que o cinema democraticamente popularizou em pouco mais de cem anos. Saiba mais nas páginas a seguir sobre os filmes escolhidos. Eles são apresentados em ordem cronológica.
Cidadão Kane
Para os críticos ele é o melhor filme de todos os tempos. “Cidadão Kane” é um divisor de águas na arte cinematográfica. Em seu primeiro longa-metragem, o jovem Orson Welles não respeitou os modelos e as regras que ditavam as produções até então e inovou na estrutura narrativa e nas técnicas de filmagem. A história conta de forma não-linear a saga de Charles Foster Kane, jovem que cresceu longe dos pais e se tornou dono de um império das comunicações. O roteiro é inspirado na vida real do magnata William Randolph Hearst (1863-1951), um dos fundadores do jornalismo sensacionalista nos Estados Unidos. Casablanca
Todo mundo vai ao Rick’s Bar. O clube noturno na cidade de Casablanca, no Marrocos, é o ponto de encontro de todos os tipos que circulam pela cidade em plena Segunda Guerra Mundial. É nele que se passa boa parte da trama de “Casablanca”, um dos melhores filmes da história do cinema na opinião dos críticos.
Rick Blaine, interpretado por Humphrey Bogart, é o dono do clube noturno freqüentado por nazistas, autoridades, figuras do submundo e heróis da resistência. Uma das principais cidades da rota de quem está fugindo do Nazismo na Europa, Casablanca é o cenário do triângulo que envolve Rick e o casal Ilsa Lund (Ingrid Bergman) e Victor Lazlo (Paul Henreid), um herói da luta contra os nazistas em fuga para os Estados Unidos.
Uma pobre aldeia no Japão do século 16 sofre com os constantes saques de bandidos. Kambei, um velho samurai, aceita defender a vila em troca de abrigo e alimentação.
Para ajudá-lo, ele recruta outros seis “ronins”, como eram conhecidos os samurais que não tinham mestres a quem servir. Com a missão de treinar os habitantes para enfrentar o próximo ataque dos bandidos, esses sete guerreiros irão alterar o cotidiano da aldeia e estabelecer novas relações entre os moradores.
A saga dos samurais dirigida por Akira Kurosawa, um dos mais importantes cineastas japoneses, exerceu grande influência no cinema ocidental, principalmente na construção dos personagens dos cowboys nos faroestes.
Rastros de ódio
Considerado o melhor faroeste de todos os tempos, “Rastros de Ódio” mostra a saga do ex-soldado confederado Etham Edwards (John Wayne) em busca de vingança.
Com uma das mais belas fotografias do cinema (feita por Winton C. Hoch), o filme foi ambientado em Monument Valley, em Utah (EUA), que com suas montanhas áridas e seu visual inóspito emolduram a trajetória de um homem amargurado atrás dos índios comanches que mataram a família de seu irmão e seqüestraram sua sobrinha.
A expressão de uma arte realista nos filmes de western e o mergulho na alma de um personagem solitário, triste e que nutria uma paixão aparentemente platônica pela esposa do irmão são algumas das características que fazem de “Rastros de Ódio” um dos melhores filmes de todos os tempos.
Um corpo que cai
O pavor que sente em lugares altos fez com que John “Scottie” Fergunson se aposentasse da polícia. Mas, sua experiência como detetive o leva a um trabalho de vigilância à esposa de um magnata da indústria naval.A mistura de romance e suspense, um roteiro cheio de reviravoltas e as perfeitas interpretações de James Stewart e Kim Novak nos papéis centrais contribuem para transformar “Um Corpo que Cai” numa das obras-primas do diretor Alfred Hitchcock.
Mestre no suspense e nas inovações cinematográficas, o diretor usa no filme um truque de câmera que ficou conhecido como “Hitchcock zoom” para passar ao espectador a perfeita sensação de vertigem do protagonista.
8½
Guido Anselmi é um cineasta em crise. Em tom autobiográfico, Fellini mostra como o personagem interpretado por Marcello Mastroianni recorda e sonha com os momentos mais importantes do seu passado.
Em crise existencial e de criatividade, ele passa uma temporada num balneário em busca de inspiração. Pressionado por todos os lados, Guido passa a misturar ficção e realidade.
8 ½ é considerada a obra-prima das obras-primas do cineasta italiano. Além da atuação excepcional de Mastroianni no papel central, a fotografia e a trilha sonora contribuem para compor esse que é um dos mais brilhantes clássicos do cinema.
2001: Uma odisséia no espaço
A ficção científica nunca mais foi a mesma após “2001: Uma Odisséia no Espaço”, filme de Stanley Kubrick lançado quando a corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética acirrava-se e quando o mundo vivia o efervescente e psicodélico final dos anos 60.
Apesar de aberto a múltiplas interpretações de seu sentido, o filme aprofunda uma visão sobre o destino, o desconhecido e o significado da existência humana. Com pouquíssimos diálogos, longos silêncios, imagens nunca antes vistas da vastidão e do vazio do Universo e um supercomputador – da geração Hal 9000 – que pensa, controla, muitas vezes é mais “humano” do que os astronautas e torna-se o personagem central da obra, o filme mostra uma missão tripulada a Júpiter e ao infinito do espaço sideral.Baseado em conto do escritor Arthur C. Clarke e recheado com metáforas sobre os sentidos da existência, “2001: Uma Odisséia no Espaço” é um épico da ficção científica, que uma década antes da revolução feita por “Guerra nas Estrelas” proporcionou uma extraordinária experiência visual e de percepção do Universo e da vida.
O poderoso chefão
O clássico dos clássicos sobre a Máfia mostra a saga da família Corleone. Na Nova York dos anos 40 e 50, Don Vito Corleone (Marlon Brando) controla negócios ilegais que irão construir um império econômico e de poder para sua família. Nessa trajetória, a violência na disputa com outros mafiosos e a honra aparecem como questões cruciais.
A transformação do best-seller do escritor Mario Puzo em um dos melhores filmes da história do cinema não foi uma tarefa fácil. Com um orçamento reduzido e tendo que enfrentar a desconfiança e as pressões da Paramount, Coppola teve dificuldades até para emplacar como atores principais Marlon Brando e Al Pacino, o primeiro pela fama de encrenqueiro e o segundo por na época ser desconhecido.
Além da atuação excepcional do elenco escolhido, outro destaque de “O Poderoso Chefão” foi o tratamento que o diretor deu a temas como a relação da corrupção com o poder, a conquista do respeito e os valores familiares.
Guerra nas estrelas
“Guerra nas Estrelas” não só turbinou o padrão dos filmes de aventuras espaciais e inaugurou a era dos efeitos super especiais, como também inundou com novas referências o universo da cultura pop.
A popularidade dos personagens, como Darth Vader, Luke Skywalker, Obi-Wan Kenobi, Hans Solo e a Princesa Leia, e de conceitos como o lado negro ou iluminado da “Força” revela o impacto que o filme mantém mais de três décadas após seu lançamento.
No final dos anos 70, platéias no mundo inteiro ficaram deslumbradas com os efeitos especiais, o ritmo das ações e das batalhas e a narrativa de um futuro em que a disputa entre o bem e o mal tomou conta do Universo.
Pulp Fiction
Quentin Tarantino misturou diálogos originais, humor negro extraído dos temas mais improváveis, assassinatos banais, muita brutalidade e uma infinidade de referências aos filmes e à cultura popular do século 20 para realizar um dos melhores produções cinematográficas das últimas décadas. Em seus trabalhos para o mafioso Marsellus Wallace (Ving Rhames), os pistoleiros Vincent Vegas (John Travolta) e Jules Winnfield (Samuel L. Jackson) saem distribuindo violência enquanto discutem sobre massagem, sexo, sanduíches e a Bíblia, entre outros temas do cotidiano, em diálogos que constituem um amplo quiz sobre cultura pop.
Uma referência direta aos “Pulp Magazines" (ou “Pulp Fictions”), revistas baratas com histórias de mistérios e detetives publicadas principalmente na primeira metade do século 20, o filme de Tarantino foi ousado o suficiente para transformar a bagagem cinematográfica e de cultura popular do diretor em uma das obras-primas do cinema do final do milênio.
